quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

matéria e espiratualidade

“Não existia nada: nem o claro céu,
Nem ao alto a imensa abóbada celeste.
O que tudo encerrava, tudo abrigava,
E tudo encobria, que era? Era das águas
O abismo insondável? Não existia a morte,
Mas nada havia imortal. E a separação
Também não existia entre a noite e o dia.
Só o Uno respirava em si mesmo e sem ar:
Não existia nada, senão Ele. E ali
Reinavam as trevas, tudo se escondia
Na escuridão profunda: oceano sem luz.
O germe, que dormitava em seu casulo,
Desperta ao influxo do ardente calor
E faz então brotar a Natureza Una”
in: RigVeda

Como interligar o existir e o inexistir em simultâneo? Como inteligir um sentido respirando em si mesmo, sem luz, latente em seu casulo? Como inteligir um casulo de treva germinal? Não é da Luz Divina e Criadora que brota a natureza manifestada mas de uma profunda treva em que se esconde. Um ser e um sentido absoluto são ininteligíveis no mundo relativo da razão solar. Convido-te à Luz Lunar. Convido-te ao maravilhoso, à imaginação, ao sonho, para buscar o sentido do imanifesto na natureza manifesta. É isso que aqui devemos fazer, não é?

Tudo para se manifestar necessita de um veículo. É necessário que o imanifesto impregne a plasticidade para que se exprima. Como expressar o Espírito sem Matéria? É necessária uma forma, não é? Não há no Universo o puro espírito sem matéria. Estes dois pólos: - O espiritual ou o imaterial ou a consciência e - a substância ou o material ou a receptiva plasticidade que lhe serve de veículo existem no seio do absoluto; - existe no seio do absoluto a consciência e o véu que a encobre, esse mesmo véu que lhe serve de veículo para manifestação individual do absoluto escondido na escuridão profunda da interioridade, respirando em si mesmo e sem ar.

Deixa que o tempo se dobre sobre si mesmo e permite-te voltar ao mais puro estado do Caos. Nem morte nem imortalidade, nem noite nem dia, apenas treva impregnando o quadrado da natureza, latente em seu casulo aguardando o despertar.

É agora que te peço para que deixes manifestar, no mais fundo da tua treva, a ténue Luz Lunar, deixa que desperte, ao influxo do seu calor, a Natureza Una em ti. Deixa-te volatilizar como se fosses apenas odores aquecidos vagando o espaço, deixa que se erga do Fogo do Meio-Dia ao Setentrião o véu da materialidade. O abismo profundo das águas separa-se deixando que a montanha se manifeste, Feminino e Masculino, impregnando dos seus odores diferenciados, o Uno Rectângulo de Ouro.


Dá ao teu olhar altura e deixa que a abóbada celeste respire resplandecente com seus luzeiros de fazer o Dia e de fazer a Noite, deixa que a mais profunda Treva em ti vá cedendo, lentamente, lugar à manifestação da Luz, reconhece de igual modo o velho e novo, o amor e o ódio, a vingança e o perdão, o individualismo e a fraternidade, a morte e a vida que Ela move, a matéria e a espiritualidade que Nela vivem. Deixa que essa dualidade, tão nossa conhecida, opere a Natureza Terra, agora  diferenciada da impregnação do quadrado.

Dá  ao teu olhar comprimento, e contempla a Beleza do Universo, o Macrocosmos manifestado Luz da tua mais profunda Treva, dando igual lugar: - ao novo e ao velho; - ao quente e ao frio; - ao compreendido e ao incompreendido; - ao próximo e ao longínquo; - à Luz e à Ausência em que se mostra.

A Ténue Luz Lunar Dela desdobrou-me o velho Mito para me poder fazer Sol em outro lugar do tempo. Qual o tempo? Qual o Lugar? Não sei … O que eu sei é que no centro; - A semente desperta do meu casulo de Treva pelo influxo ardente da razão e do sonho, para brotar enfim a natureza única em mim; - nem Centro nem Esfera, nem Sol nem Lua, nem Feminino nem Masculino, nem Luz nem Obscuridade, nem Bem nem Mal, apenas o Véu da Consciência que um Tempo de Amor paciente continuará a revelar-se-me. 

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