sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Orgasmo solar




Senti as barras frias
No calor das minhas mãos
Privadas à liberdade das estrelas
Ouvi os segredos do vento
Arco de violino tangendo as cordas do tempo
Fiz-me corpo de árvore sibilante
Transgredi a tristeza do ocaso
Desenhei um arco de céu na minha cela
E chorei solidariamente os olhos cegos
Por um orgasmo do Sol

sábado, 8 de janeiro de 2011

Vinicius de Moraes

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflecte. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o património de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Eidética

2 paus + 2 paus = 4 paus
2 dedos + 2 dedos = 4 dedos
2 corações + 2 corações = 4 corações
Pensar 2+2=4 independe do signo associado à ideia
Compreender uma ideia é concebe-la o mais exactamente possível e neste jogo mental a separação entre o eidético e o signo não é possível como no caso de 2+2=4.
O formalismo da compreensão de uma ideia assenta na experiência, pois é esta que dá conteúdo ao signo. O eidético e o signo só são separáveis depois de compreendida a ideia. Ficamos assim numa espécie de infinitamente limitados pela experiência definidora dos signos mentais que nos compõem a ideia.
Pode uma pessoa que nunca amou compreender o eidético em amor?
“Tramou-nos” bem o Platão com a eidética e a procura da essência do mundo das ideias.
Quando tentamos compreender uma ideia estamos na verdade a fazer uma tradução. O mundo das ideias não obedece a leis lógico-verbais, precisa de tradução para o mundo lógico-verbal para que possa ser pensada. Ao efectuarmos a tradução perdemos a essência do mundo das ideias, afasta-mo-nos da eidética.
O único jogo mental em que a ideia se pode dissociar completamente do signo é o sonho. Este obedece apenas ao movimento interno, cria as suas próprias regras imanentes de ideia, não está limitado pelas exigências vindas do exterior. No sonho a eidética é separável do signo e por isso muitas vezes ele se nos apresenta como estúpido; - Não obedece à lógica formal e dedutível que se constrói da experiência.
Deduzimos o mundo limitado à nossa experiência. A sociedade erradicou o mito e matou o sonho ao desinvestir na intuição e apoiar o modus vivendi na dedução lógica.
Estamos a ser roubados do sonho. Estamos a ficar amnésicos de mito.
Quando nos apaixonamos pensamos “amor para sempre” porque a paixão vive do imaginário mítico. Vive do ar das almas.
Diz-se que toda a pessoa é feia até que alguém se apaixona por ela.
O imaginário mítico exalta a beleza, a força e a sabedoria intrínseca a cada ser.
Uma pessoa apaixonada nunca tem dúvidas, impera a vontade da acção e os seus actos são repletos de beleza. No entanto a paixão esmorece, o amor faz-se castelo de areia varrido pelas águas, e o objecto da nossa paixão esmorecida torna-se feio... Tudo se perde porque nos perdemos do “para sempre” mítico do eidético em amor.

A Eidética de Platão é o centro (o ponto de menor turbulência do circulo). Pergunto-me
- Onde estás Arkê?
- Dentro dos meus sonhos?