quarta-feira, 30 de março de 2011

Ao luar



Ergueu-se o Sol
Da funda gruta
Caminhou as águas
E tombou
Sobre a Lua
Claridade dolente
Que a noite ofuscou

Sem labor, sem descanso
Escasso de luz,
Alumia
O que espelha a obscuridade
E acendeu-se a inveja
Só!
Sob a dor íntima
Da noite apagada

Fechou-se a janela
De sorriso sardento
Que o breu eleva
Pelo céu a voar
Nas horas nocturnas
Em que dorme o luar

segunda-feira, 21 de março de 2011

Imprecação ao Sol

Chora
A redonda palavra
De luz ofuscada
Chora
Sob o sol intenso
Que lhe abre os véus
Chora
A impudicícia brancura
Sob os céus apagados

Redonda palavra
Lança o encantamento
Da sombra
Que te faz quarto
Abre a bruma dos enigmas
Sobre as águas
Dobra a tua charpa
E amarra o despudor desses raios
Que te desfloram o mistério

Harpeia o breu
Redonda palavra
Veste-te da graça da tua treva
E acende os céus libertos de toda a culpa
Cicia-me o silêncio incognoscível
Que abre a porta indistinta da tua prata
E deixa que se acenda a noite em mim
Sob o pudor dos teus véus.



Para aceder à Galeria de Miguel Claro em Olhares

porque hoje é dia internacional da poesia

Poema em linha recta
Fernando Pessoa




Cântico Negro
josé Régio



No fundo do mar
Sophia de Mello Breyner



Há palavras que nos beijam
Alexandre O'Neill


Ser Poeta
Florbela Espanca

quarta-feira, 16 de março de 2011

Incertezas

É só um passo
Interiormente um abismo
Realidade e sentimento
Diferem
Na proporção do medo
Do desconforto
Do feito face ao sonho
Que colapsou
(E nem sei bem
Quando foi que a realidade
Atropelou o sonho
Ou talvez tenha sido o sonho
A trucidar a realidade)
De real só tenho um passo
De sentimento
A sustentação sobre o abismo
E não é sonho
A realidade o escreverá
A riso ou a lágrima
Na minha face
E vou dançando este meu medo
Agarrada ao futuro
Num passo de tango
Sobre o abismo
Ardente
Da esperança

segunda-feira, 14 de março de 2011

Bem hajas!

Tive sempre com o meu Pai uma relação difícil.
Eu sou um espírito livre
Ele tem espírito dominador
Vamos conjugando o que somos com exigente amor.

Teria eu talvez 16 ou 17 anos (tinha começado a namorar por isso andava nesta faixa de idade) e a família ousou um S. João nas ruas apinhadas do Porto. Encantei-me por um peluche amarelo (enormeeeeeee! pelo menos o maior que alguma vez tive) que se encontrava pousado numa das muitas bancas da cidade do Porto e pedi ao meu pai que o comprasse. A minha mãe profetizou logo o impróprio face à minha idade, ela sabia que breve passaria de menina a mulher, mas não o meu Pai. Compro-me o peluche com o carinho de quem diz; - serás sempre a minha menina.

Em 2005, mais ou menos por esta altura, o meu Pai sentiu-se mal e a minha mãe chamou-me, morava perto na altura. Rapidamente me apercebi que estava a ter um ataque cardíaco e lembrei-me de um email que dizia que tossir ajudava. Lembro-me de lhe ter dito imperativamente; - Tosse! E de entrar em pânico interior. Ele olhou para mim com o ar mais desprotegido que alguma vez lhe observei e tossiu. Eu, que tive formação em saúde, sabia da necessidade de chamar o 115 mas em vez disso meti-o no meu carro e conduzi-o pelo breu da nossa noite até ao hospital. Lembro-me sobretudo do desnorte da minha incredulidade. Não estava a acontecer, não era o meu Pai que estava a ter um ataque cardíaco. Isso era uma impossibilidade. Aquele era o meu Pai, não podia ser um ataque cardíaco, o meu Pai é eterno… mas era mesmo um ataque cardíaco e teve outro já no hospital. Perguntei à médica: - Tem as coisas controladas, não tem? Ela olhou para mim com os olhos abertos de espanto e respondeu-me: - Tanto quanto posso ter. O seu Pai vai ser transferido para o Hospital de S. João assim que estabilizar – e eu percebi que o tanto quanto ela podia controlar a situação era muito pouco controle.

Esta ameaça à Força do meu pai, esta sua capacidade de ser perecível, absolutamente nova para mim, deixou-me no nada. Perdi toda a minha sustentação e vaguei o vazio racional, deixei-me invadir pela comoção, expectante na reposição da normalidade que assentava na Força do meu Pai.

Quando ficou fora de perigo deixei a porta do S. João e fui visitar o peluche amarelo, sem um olho lamentavelmente, que deixei guardado na garagem dos meus pais dentro de um saco. Miúdas vezes, quando os visito, abro o saco e aconchego a minha meninice, plena do carinho do meu Pai, no fofo abraço do enormeeeeee peluche amarelo comprado numa noite de S. João.

Na próxima quarta-feira o meu Pai fará 73 anos e eu descubro, ao pensá-lo, que não necessito de ser tão livre assim e que acarinho a ideia de ser; - a sua eterna menina - assim como acarinhando-o eternamente em mim.

:)))))))

sexta-feira, 11 de março de 2011

:)

De nada já serve pensar-te
Tão grande a lonjura
Numa nesga de espaço.

Onda que não chega
Cabelos que não pendem
De estrelas pregadas
Em céu pintado de nós

Vento que não acaricia
E seca as cores de esborrachar desejos

De nada já serve pensar-te
Tão grande a lonjura
Numa nesga de espaço
Das tuas folhas
Ao meu azul

Ficaste-me bocadinhos de Lua
Migalhas de Luz

terça-feira, 8 de março de 2011

8 de Março de 2011

Hoje é dia Internacional da mulher. Uma efeméride que celebra a luta das mulheres pela igualdade. Dizem que a luta pela igualdade é anacrónica no entanto os números mostram que ainda o não é.

O Primeiro Ministro disse ontem, comentando um protesto de jovens a que chamou partida de carnaval, que a crise afecta primeiro os jovens. Esqueceu-se das mulheres; - “Na prática, 315,4 mil mulheres estavam desempregadas, o que corresponde a mais de metade do total de pessoas sem trabalho.” - Público

O silêncio do primeiro Ministro face À situação de desemprego das mulheres só é comparável ao silêncio impróprio de que sofrem as mulheres.

Em Novembro de 2010 foram publicados os seguintes números no que refere violência contra a mulher em Portugal; - “foram já assassinadas por violência doméstica e de género 39 mulheres, mais dez do que em 2009”

Calam-se quando desejam gritar

Imagino que o Sr. Primeiro Ministro também tivesse “todo o gosto” em ser "simpático" com as mulheres. Seria simpático dotar de orçamento serviços de análise de mulheres em risco. Seria simpático que a justiça funcionasse de forma célere quando uma mulher pede separação de corpos, na verdade ela devia poder pedir um habeas corpus já que se trata efectivamente de tomar posse do seu corpo. Pois ela sofre de ameaça à sua liberdade por parte de quem não tem sobre ela qualquer autoridade.


Não, a luta das mulheres pela igualdade não é infelizmente anacrónica. Os videos que se seguem expressam uma realidade supostamente particular mas não é tão particular assim







Não são tão particulares assim, são?

Há denominador comum; - Violência contra a mulher



Nem sempre foi assim e não tem que ser assim



Não, a luta pela igualdade não é anacrónica.