domingo, 29 de dezembro de 2013

Meia-noite no meu dia

Esta noite podia sonhar a lua
A melodia breve da brisa sobre agulhas
Desenhar calmaria a odor de pinho
Esta noite podia pesar o sono
E descansar, enrolar-me no sonho,
Como se fosse concha de primordial
Colocar a um canto os uivos tristes
Que me vêm das fundas águas
Gritos que a servidão gera
Comunicando-me à solidão
Esta noite podia abrir a boca às estrelas
E pintar a noite com uma verdade interior
Ideia revelada, pura e compreensível
Esta noite podia volatilizar-me
Ao calor do fogo regenerador
E fazer retornar Sophia a Pleroma
Extinguir Dimiurgo em mim
Ordenador do informe e do indeterminado
Conformador de realidade copiada
De ideias falidas e insustentáveis
Esta noite podia sonhar a liberdade
Unir-me a Ovídio e gerar cisão
Sustentar a discordância, dissidir
Desta realidade Caos
Sim, podia, esta noite podia …
Ao virar da meia-noite
Podia sonhar só o bem
E realizar-me dia

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Feliz Natal

Não me procures
Que dentro a mim
Te encontrei

Sabendo-te
Forma, paladar e odor
És em mim errante

Tateei a mais densa treva
Para te saber
E sabes-me à Centelha de mim
Tremeluzente, errático, débil
Caminho de erro e acerto

Não me queiras submissa
Que na queda visto coragem
E arrebato a comoção
Não me esperes grata
Que sedução 
Não me cai bem

Torço, grito e agito-me, mas
Menino que a noite Redenta
Não me procures 
Que dentro a mim
Humano!

Te encontrei.




terça-feira, 27 de agosto de 2013

jardim Secreto

- Amas-me?
Sim.
-Amas-me como?
Como amo o oceano
As gaivotas
Ou os lírios do campo

- Queria dizer-te 
Não digas!
Deixa muda a Voz
o silêncio do teu gesto
rompe o ruído
musicando segredos nossos

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Alma

Hoje fui ao meu lugar de chorar.
Como de todas as vezes; - Chorou-me o riso!
Gargalhar melodioso solto do olhar das folhas;
- Despertaram-se-me as ilusões de morada incerta
que vagueiam por entre passos a monte do amor.
Hoje fui ao meu lugar de chorar e
mentia se não dissesse que:
- como de todas as vezes –
Percorri, frente a frente,
todo o tempo para trás,
todos os enganos,
todas as coincidências que tropeçaram em mim.
Rememorei todas as vezes em que
nos incompreendemos,
todos os inconsequentes
em que te fumei.
Lembrei-te a forma…
e chorei
cristalino
o choro que te ficou
por chorar...
Voltaremos a encontrar-nos
mas ainda não.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Do Zénite ao Zénite


Hoje acordei com o Zénite

Atirei o tic tac mecânico para o fundo da gaveta

Harmonizei-me com a hora que é minha

E Chamei meio-dia à minha primeira hora

Para que me viesse primeiro a tarde e a seguir a manhã

Mudei de casa e comecei pela casa VI do dia

 
Deixei para trás o Eu, os metais, a superficialidade

Larguei o conforto de possuir

E o limite da exaltação da identidade

Deixei para trás a metade da minha existência

E começo o meu dia na casa da obrigação e dedicação à prática

Organizo e sistematizo a minha rotina, coloco ordem na minha vida
 

2 tempos avante e atinjo a casa VII

Eu e o outro e a seriedade da dádiva e da colheita

Vivo a experiência de me relacionar, a experiência do coletivo

Na casa VII, oposta à individualidade da casa I, não estou só

Inicio a composição dos relacionamentos, das parcerias e estabeleço alianças para a vida

Confronto-me com pontos de vista e vontades diferentes da minha

Que me fazem cúspide do ascendente ao reconhece-los

Início a abordagem ao relacionamento com comprometimento

 
2 tempos vibrei  com a dádiva do outro e cheguei à casa VIII

Compartilho os meus valores e os meus excessos

Início o alívio do lastro do que acumulei na vida

Abandono os valores pessoais e assimilo os valores coletivos

Liberto-me dos preconceitos e das minhas angustias

Morro e renasço, transformo-me e regenero-me

 

Passei incólume pelos dois tempos difíceis da casa VIII para me regenerar

Refundada estou pronta para me encontrar com o sublime na casa IX

 Vivo tudo o que eleva e enaltece a minha humanidade

Procuro a vivência da minha aprendizagem superior

Aplico-me no estudo da Gramática, da matemática, da filosofia, da moral e das religiões

Procuro a sabedoria humana que a tinta deixou indelével nas páginas

Que me contam a minha história longínqua. A minha história de Ser sem fronteiras

Viajo dois tempos pelo espaço distante, dobro-me sobre o tempo,

Desenho a minha primeira abordagem à interação com o distante e

Início a elevar a minha alma, guardando apenas o que me elava e enaltece

Para chegar à casa X.

 

O crepúsculo caiu e a noite quer namorar-me o espirito com o sucesso e o reconhecimento social

Mas eu já não reconheço a noite e lanço sobre o breu a luz que a história da minha humanidade transporta.

 

Depois de estabelecer as metas elevadas da minha vida na casa IX cheguei à casa X Com um novo conhecimento e uma nova ética onde me refundei e na qual estabeleço a minha posição na sociedade; -Irradio o que aprendi e liberto-me da escravidão de sobreviver.

Cheguei à casa mais alta do zodíaco e consequentemente à mais difícil de alcançar; -A estruturação da vivência do sucesso como uma meta de longo prazo a conquistar com a banalidade de cada um dos meus gestos ao longo da minha vida.

 

Dois tempos levei a ultrapassar a vaidade e a perceber que o discreto realiza e traz o melhor na casa XI; - As Rosas

Oriento a minha capacidade de me adaptar às exigências do bem comum

No que ele me trouxer de lucro e de perda

Depois de me estruturar e estabelecer a minha posição na vida dois tempos levei para apreender a identidade do coletivo; - As experiências que me levam a contribuir para o progresso na descrição dos meus gestos, dos meus planos de redesenho do futuro de pessoas livres, fraternas e humanitárias, exaltando sempre a permanência da ordem.

Saio da casa XI com a sensação de liberdade e de dever cumprido para viver a imensidão da casa XII

Vivo a primeira hora da minha Fé e a última casa do zodíaco: - Tudo o que realizo me levará a algum lugar ou acontecimento que, se for fundado na ética e na abnegação, será bom e reconhecido ainda que seja banal.

É Meia Noite e eu estou no Zénite

Vivo a segunda hora da minha certa de que iluminarei a meia parte noite da minha vida com o Luz que souber disseminar da minha meia parte dia.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

ahhhh!

Uma raiva húmida invadiu-me a face estremunhada da manhã e perguntei-me quem te terá autorizado a atirar, depois de um vira, tudo ao chão.
Não podias por uma vez, uma vez só que fosse, obedecer à vida que em ti saltava?
As linhas de hoje saltam-me da raiva e da saudade. melhor,saltam-me da raiva que visto com a saudade de grandes orelhas, olhar maroto, sorriso de memória terna sobre um corpo de dúvida.
Falo mas falta-me resposta do abstracto: - Nem as estrelas nem as rosas me respondem - questiono mesmo se me ouvem... e a dúvida deixa-me perene a solidão.
Se à hesitação e à duvida não me respondes como segurar a humidade que me escorre do olhar ao coração?
É, quando tudo parte e fico só com o lago que me habita, que a pergunta me sai em riste:
     - Quem te autorizou a morrer?!