Tive sempre com o meu Pai uma relação difícil.
Eu sou um espírito livre
Ele tem espírito dominador
Vamos conjugando o que somos com exigente amor.
Teria eu talvez 16 ou 17 anos (tinha começado a namorar por isso andava nesta faixa de idade) e a família ousou um S. João nas ruas apinhadas do Porto. Encantei-me por um peluche amarelo (enormeeeeeee! pelo menos o maior que alguma vez tive) que se encontrava pousado numa das muitas bancas da cidade do Porto e pedi ao meu pai que o comprasse. A minha mãe profetizou logo o impróprio face à minha idade, ela sabia que breve passaria de menina a mulher, mas não o meu Pai. Compro-me o peluche com o carinho de quem diz; - serás sempre a minha menina.
Em 2005, mais ou menos por esta altura, o meu Pai sentiu-se mal e a minha mãe chamou-me, morava perto na altura. Rapidamente me apercebi que estava a ter um ataque cardíaco e lembrei-me de um email que dizia que tossir ajudava. Lembro-me de lhe ter dito imperativamente; - Tosse! E de entrar em pânico interior. Ele olhou para mim com o ar mais desprotegido que alguma vez lhe observei e tossiu. Eu, que tive formação em saúde, sabia da necessidade de chamar o 115 mas em vez disso meti-o no meu carro e conduzi-o pelo breu da nossa noite até ao hospital. Lembro-me sobretudo do desnorte da minha incredulidade. Não estava a acontecer, não era o meu Pai que estava a ter um ataque cardíaco. Isso era uma impossibilidade. Aquele era o meu Pai, não podia ser um ataque cardíaco, o meu Pai é eterno… mas era mesmo um ataque cardíaco e teve outro já no hospital. Perguntei à médica: - Tem as coisas controladas, não tem? Ela olhou para mim com os olhos abertos de espanto e respondeu-me: - Tanto quanto posso ter. O seu Pai vai ser transferido para o Hospital de S. João assim que estabilizar – e eu percebi que o tanto quanto ela podia controlar a situação era muito pouco controle.
Esta ameaça à Força do meu pai, esta sua capacidade de ser perecível, absolutamente nova para mim, deixou-me no nada. Perdi toda a minha sustentação e vaguei o vazio racional, deixei-me invadir pela comoção, expectante na reposição da normalidade que assentava na Força do meu Pai.
Quando ficou fora de perigo deixei a porta do S. João e fui visitar o peluche amarelo, sem um olho lamentavelmente, que deixei guardado na garagem dos meus pais dentro de um saco. Miúdas vezes, quando os visito, abro o saco e aconchego a minha meninice, plena do carinho do meu Pai, no fofo abraço do enormeeeeee peluche amarelo comprado numa noite de S. João.
Na próxima quarta-feira o meu Pai fará 73 anos e eu descubro, ao pensá-lo, que não necessito de ser tão livre assim e que acarinho a ideia de ser; - a sua eterna menina - assim como acarinhando-o eternamente em mim.
:)))))))
Só verdades
Há 20 horas
4 comentários:
O teu pai vai ficar derretido com a menina dele, olá se vai...
Beijos da suspeita.
hehehehe
A ideia é essa.
Dar-mo-nos enquanto podemos dar-nos.
Um pai como o teu é um Pai. Uma filha como tu é uma Filha!
O carinho da família com a força de vencer do teu Pai, deixou-vos felizes.
O Amor entre vós é explícito e deve ser aproveitado ao máximo enquanto sabemos que estamos todos juntos.
Eu gosto muito da vossa famelga e, por isso, é uma Famelga.
Um beijo Maputense, Lei
Tu és da família Lei. És o meu menino :)
Saudações lisboetas
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